'O espelho reflecte certo; não erra porque não pensa.
Pensar é essencialmente errar.
Errar é essencialmente estar cego e surdo'
Alberto Caeiro

Sentidos

quinta-feira, 14 de maio de 2009

ESTÓRIASVELHAS – ROUPASNOVAS

É dos tomates…

Antunes Ferreira
A Dona
Idália vivia com um pesadelo quotidiano. Passo a explicar. De noite e de dia, 24 horinhas bem contadas, era uma seca. As Amigas bem a tentavam demover daquela complexa e permanente obsessão. Nada, meninos, nada. A mana Gracinda, mais nova, até se referia ao assunto, cada vez mais preocupante. Dizia ela que a primogénita tinha de se deixar de tais preocupações. E que, se fosse o Erle Stanley Gardner, outro galo cantaria. O Perry Mason - mais a Della Street e o Paul Drake - investigaria «O caso dos tomates assassinos». Mas era a sua irmã, e daí... Sendo assim, prossegue já estória, que pode fazer-se tarde. Ela é dos tomates...

A virtuosa Senhora tinha no quintal dela uma plantação de tomates modelo coração. E o vizinho do lado, o Senhor Crispim, também tinha a mesma variedade do vegetal vermelho. Como se sabe, o consumo do tomate é recomendado pelos nutricionistas por ser um alimento rico em licopeno (média de 3,31 mg em cem gramas), vitaminas A e B e minerais importantes, como o fósforo e o potássio, além de ácido fólico, cálcio e frutose.

O tomate é constituído principalmente por água, possuindo só cerca de 14 calorias em cem gramas. Alguns estudos comprovam a sua influência positiva no tratamento de cancro, pois o licopeno, pigmento que dá cor ao tomate, é considerado eficiente na prevenção dos tumores da próstata e no fortalecimento do sistema imunológico. A Wikipedia é bué da fixe.

E então? Os tomates da horta da Dona Idália apareciam, de repente, completamente bicados pelos pássaros. Pelo contrário, os cultivados pelo Senhor Crispim cresciam vigorosos e saudáveis, sem uma única picadela. Ela andava numa fona. Por que raio isso acontecia? Por que bulas?



Um dia, não esteve com meias medidas. Vizinho Crispim, como é que isto está a acontecer? O que faz o Senhor aos seus tomates? E o homem, sorridente e matreiro: os da horta, claro… Olhe querida Senhora, vou à loja de ferragens, o dono tem lá uns tomates de chumbo muito bem imitados, vermelhinhos, parecem mesmo reais. Antes que os verdadeiros comecem a crescer, ponho lá os outros, os pássaros afiam os bicos, atacam e sofrem tremendo revés. Não voltam a atacar. Se fosse outro bicho, ficava desdentado.

Obrigado, Senhor Crispim. E na manhã seguinte, ei-la a caminho da loja de ferragens, determinada e decidida. Entrou e o Santos, dono do estamine, estava sentado num banco. Ao ver a freguesa, pessoa muito conceituada na aldeia, levantou-se com dificuldade e uns ais e uns trejeitos de dor à mistura. E chegou-se, devagarinho, ao balcão. Que deseja Vossa Excelência?

Senhor Santos, tem tomates de chumbo? Não, de maneira nenhuma. Perdoe-me, Senhora Dona Idália, saiba Vocência que é um danado de um reumatismo... Cai o pano e cai a dama.

(Também publicado em http://aminhatravessadoferreira.blogspot.com)

3 comentários:

Otário Tevez disse...

não esperava esse desfecho na história, mas gostei!

A Dona Idália não deveria chegar perto das pessoas e perguntar logo de assentada se havia 'tomates de chumbo'... foi mal entendida, lá está.

e a wikipédia é bué da fixe :)

Rui Caetano disse...

Mas que inesperado...

Xuxudrops disse...

Ahuahuahua!Surpreendente, adorei!

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