'O espelho reflecte certo; não erra porque não pensa.
Pensar é essencialmente errar.
Errar é essencialmente estar cego e surdo'
Alberto Caeiro

Sentidos

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

O meu primeiro capitulo.. partilhado convosco!

Era uma vez uma pequena rapariga que corria inocentemente pela vida. Sorrindo, pensando na sua doce e cor-de-rosa existência. Era feliz (aquela cândida felicidade, lembram-se?) e os céus eram sempre abençoados pelo sol.

Não é querido? Aqueles anos, aqueles suaves anos, quando pensamos que o mundo é feito para nós e para os nossos sonhos. Mas… depois… não é ridículo? Somos adolescentes… não somos crianças nem adultos… adolescentes! Desta vez, o mundo é feito para lutar contra nós e construímos sonhos impossíveis: fugir de casa, casar com dezassete anos, não dar importância ao dinheiro, às contas, ao conforto… e só nós, só nós, temos o direito de falar, de lutar, de sonhar…

Agora sou adulta… pelo menos assim penso. E estou tão cansada (morta!), cheia de tretas. E o meu sonho é desistir. Desistir de tudo!

Há pessoas que não imaginam o bem que fazem às outras. Mas ninguém sabe disso. Ninguém sabe de mim.

A minha história começa como começam tantas outras. Com uma história de amor, daqueles platónicos, abrasadores, corrosivos! Mas antes de mais nada, as apresentações: chamo-me Sofia, não vou dizer a minha idade porque não gosto de pensar nisso; se querem saber a minha constituição física… digamos que eu não gosto…mas há quem goste – uns muito, outros pouco, a outros é-lhes indiferente. Ainda há aqueles que dizem que sou linda com medo que lhes macere o juízo. Ou se calhar não têm coragem para ter honestidade suficiente. Quanto è minha personalidade, detesto a praia, o mar, a moda padronizada, comida sem sal, não ter trabalho, que me desautorizem, que gozem comigo, o vento forte, a neve, não ter carta de condução, estar sozinha, passar o dia em casa, a monotonia, a minha própria preguicite, bacalhau, azeite, o Natal consumista, a minha carteira e a sua ridícula falta de dinheiro, falta de responsabilidade, o IVA, o IRS, o IA, o IMI e o IRC, a falta de educação e a cretinice, a falta de sexo paz e amor, música barulhenta e desconcertante, a gordura que se acumula na minha barriga rabo e coxas, mulheres “quequezinhas” que adoptam a moda das “ tias de Cascais”, as loiras burras, homens trolhas, machistas e chauvinistas, acidentes de automóvel e habilidades, o Benfica, aviões, navios, ir à pesca, miúdos impertinentes e irritantes, salmão fresco, todo o tipo de drogas, marcas reles de carros, a crise e a crise do petróleo, os vegans, vegetarianos e ecologistas, os da Greenpeace, a complicação dos transportes públicos, o trânsito, miúdas que abanam o rabo a andar, o calão e a gíria, a falta de cultura, o Magalhães, não ter sucesso, o calor, Lisboa. Posto isto, podem constatar que é fácil lidar comigo. Até tenho um feitio engraçado e não me considero esquisita.

Quando era mais novita – não que não o seja, fui para a faculdade. Ia de bagagens cheias: sonhos, projectos, fantasias. A verdade é que me saiu tudo furado. Quando entrei, namorava à bastante tempo e estava noiva, com data marcada para breve. Ele tinha sido, sem dúvida, o meu primeiro grande (será que posso dizer único?) amor. Trabalhador, humilde, boémio. Tal como eu. Tinha era uma série de defeitos: ao pé de um bode parecia o Brad Pitt (o bode), o português não era a sua língua materna, mas sim o serranês, a delicadeza deixava-a sempre perdida sabe Deus onde e o seu apetite voraz por rabinhos de saia era qualquer coisa de fenomenal. Se eu tivesse um burro a comer assim palha, acabaria por ter de comer palha também. Esse apetite que denominei como sendo fenomenal fê-lo engodar uma área muito perigosa: a minha melhor amiga. Tudo bem que a rapariga até era um naco que não se deitava fora, mas eu cá não gosto de comer em matilha. Acabei, assim, o que a adolescência tinha ditado como sendo um “amor imortal”. Não sei se percebe, mas o problema da juventude é este mesmo. Quando um azulejo racha, a parede acaba por se desfazer e a casa por cair. Por causa de um azulejo previamente rachado, deixei a minha casa ruir. Entrei em depressão nervosa – a faculdade não é pêra doce – e rapazes nem vê-los! Para mim eram todos umas bestas. Com cornos e tudo.

4 comentários:

izzie disse...

Adoro... adoro quando escreves, quando deixas os dedos dedidlhar no teclado.
Tinha saudades... e é bom ver-te voltar... e partilhar connosco!

Beijo

Anónimo disse...

"Era uma vez uma pequena rapariga..."

Aquele "Era uma vez2 sempre foi a minha perdição. Não sei porquê, mas parece-me que ao ler aquelas palavras, uma mola invisível me catapulta para um estado assim a modos que eléctrico... já predisposto a gostar do que vem a seguir.
Não estava era à espera do que vinha a seguir. Mas pronto. A gente engole em seco, fica a pensar e ... afinal o que é ser jovem ( adolescente ) ?

Que diabos... afinal é isso mesmo. A gente é enrolado, enganado, criticado, amarrotado, gozado, martelado, amado, enforcado, calado, silenciado, tarado ... e, apesar de tudo... provavelmente repetiríamos tudo outra vez ( ou quase tudo ).

E agora... que somos adultos ( seremos ? ) abarrotamos de medo da vida, e com vergonha, dizemos que não... que não é medo, mas simplesmente... Prudência.

Portanto... desculpa o comentário taaaaaooooo longo... era só para dizer que gostei, mas acabei dizendo mais coisas...

Xuxudrops disse...

Aparentemente temos gostos por espelhos, não?

Essa menina de quem fala é você ou uma personagem?

Abraços.

Anónimo disse...

Texto maravilhoso... Adorei ler você, parabéns!
Deus abençoe você e suas belas inspirações...
Beijo de poesias, rsss.
Com carinho,
CelyLua, Amiga e fã das tuas palavras...

Muito obrigada!

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