'O espelho reflecte certo; não erra porque não pensa.
Pensar é essencialmente errar.
Errar é essencialmente estar cego e surdo'
Alberto Caeiro

Sentidos

sábado, 12 de setembro de 2009


Treze gotas ao deitar

Há mulheres
que de tudo

são capazes

Antunes Ferreira
A Alice é a
culpada. A Vieira, claro. Não me deixou dormir a noite inteira. Alto lá. desafivelem já esses sorrisos sacanas das vossas faces insolentíssimas. Honni soit. E, pior: ela e mais cinco. Enuncio. A Rosa Lobato de Faria, a Leonor Xavier, a Luísa Beltrão, a Rita Ferro e a Catarina Fonseca. Seis mulheres – é uma multidão. Sendo perigosas – ainda mais é. Um tsunami.

Vamos aos factos. Uma noite inteirinha agarrado a um livro, deitei-me às seis e picos da matina, a Raquel a perguntar-me o porquê de me estar a levantar tão cedo. E eu (que nem lhe disse que era, sim, a entrar no vale de lençóis) – foi por causa das gotas. Gotas? Que gotas? Esta noite começaste a tomar gotas? E, sem esperar pela resposta, a minha cara-metade, virou-se para o lado e recomeçou a ressonar.

Uma cantiga velhinha, hoje interpretada pela verde Maria José Valério, é a que diz no refrão «cuidado, rapazes, cuidado muito cuidado; há mulheres que de tudo são capazes, e a fortuna não está sempre ao nosso lado». Muito bem. É o caso; na verdade, há mulheres que de tudo são capazes. Este sexteto feminino foi capaz de escrever um romance notável e hilariante. E foi também capaz de me levar a lê-lo de fio a pavio durante uma noite inteira.



Ainda não leram o «13 gotas ao deitar»? Não sabem o que perderam. O que perdem. Uma história alucinante em que a protagonista Marina se desdobra em mais três fulanas: a Odete, a Maria Eduarda e a Francisca. A inquirição é sugestiva e perfeita: quantas mulheres existem na cabeça de Maria Marina Silveira Figueiroa? Pelos vistos, quatro.

Mas podiam ser seis, como as autoras. O que ainda traria mais complicações a um enredo já de si labiríntico e gozadíssimo. Não o conto aqui, porem, porque o livro deixaria de ter piada quando o lessem – e os direitos de autor, neste caso das autoras, são para ser respeitados, ainda que num mercado cada vez mais assassino, muita gente não se lembre disso. E os euros estão cada vez mais caros – e raros. Feitios.

Por isso, apenas me limito aqui a registar o facto incontroversamente verdadeiro: nessa noite não preguei olho. E, aparentemente, nada fazia indicar que tal acontecesse. Eu conto. Tinha ido um tanto diletantemente, à fnac do Colombo (é assim mesmo, não se trata de publicidade, palavra), local por demais perigoso, cheio de armadilhas, veja-se que foi lá que lancei o meu «Morte na Picada»… E fui passando pelas estantes, juro que para ver se tinham saído novos policiais. Sou um verdadeiro louco por eles.

Nisto, insidiosamente, surde duma delas, carregada de autores portugas, um romance, «13 gotas ao deitar». Bom título. Óptimo. O jornalista nunca deixa de o ser e está tudo dito. Escrito por? À cabeça do gang a Alice Vieira. E entre as conjuradas, a filhinha Catarina que conheci miúda e bem, com uns chupas à mistura, na Redacção do DN.

A Alicinha, além de grande e fiel Amiga (o bacalhau já era), foi minha camarada de trabalho ali no quotidiano. À minha beira, ou quase, pariu o mais lindo livro que algum dia li, «Rosa, minha irmã Rosa» alegadamente para crianças, eu diria, plagiando já não sei quem, dos oito aos oitenta. Foi uma colheita magnífica: o Mário Zambujal lançava os «Bons Malandros», o Dacosta conduzia o «Jipe em segunda mão». Um fartote.

Dito isto, e perante a trama tramada, com assassínios à mistura e tudo o mais, vem-me ao cristalino bestunto um anúncio também já com uns anitos: Com Dum Dum não escapa um! Dum Dum é o fim!

[Aqui entre nós, que ninguém nos ouve (sem h): depois da noite insone telefonei à Alice, dei-lhe conta da ocorrência e - meti-lhe uma cunha. Da próxima vez que houvesse (com h) uma loucura destas, se elas me deixassem, eu podia... Tal como o Mingas, ela disse que sim... mas]

NE - Este textículo foi publicado primeiro no http://sorumbatico.blogspot. Como homenagem justíssima às autoras, será ainda editado em não-sei-mais-onde.

4 comentários:

EDUARDO POISL disse...

"Que seja eterna a vitória dos seus dias,
mesmo quando eles lhe derem
a impressão de fracasso.
E nunca se esqueça que atrás das nuvens
sempre existirá sol."

(desconheço o autor)

Hoje passando para desejar um lindo final de semana com muito amor e carinho
Abraços do amigo Eduardo Poisl

Eri disse...

aê blog legal!

Rui Fartura. disse...

gostei de te ler, gostei de conhecer um blog assim. bom trabalho.

Rabisco disse...

Olá!
Bem, antes de mais quero agradecer por ter tido a oportunidade de ler esta fantástica publicação que me deu a conhecer um livro sobre o qual ainda não tinha ouvido (sem h) falar.
A maioria destas autoras fazem parte do leque dos meus preferidos e, por isso, sinto urgência em conhecer esta história (com h).

Estará para breve!

Obrigado e abraço

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