'O espelho reflecte certo; não erra porque não pensa.
Pensar é essencialmente errar.
Errar é essencialmente estar cego e surdo'
Alberto Caeiro

Sentidos

terça-feira, 29 de setembro de 2009


PAÍS SUI GENERIS

PS perde
maioria
– mas ganha

Antunes Ferreira
Quando
eu andava pelo primeiro ano da Faculdade de Direito da Universidade Clássica de Lisboa aconteceu um caso que nunca mais esquecerei. O professor de Introdução ao Estudo do Direito era Luís Pinto Coelho, salazarista convicto, que depois foi embaixador. Era filho do antigo e prestigiado catedrático José Gabriel Pinto Coelho e pai do meu colega de estudos e grande pintor também de nome Luís Pinto Coelho, infelizmente falecido novo.

Numa das suas aulas quando explicava que havia em Direito instituições, figuras, documentos e outros que se classificavam de sui generis. E como lhe parecesse – penso – que os alunos não entenderiam muito bem a expressão, apressou-se a elucidar que, em Direito, quando não se sabia qualificar uma dessas situações, chamava-se-lhe – sui generis. Coisa especialmente típica de Portugal e dos Portugueses, aditava ainda.

Esta singela estória da minha vida estudantil vem-me frequentemente à memória em geral e muito particularmente nos momentos pós-eleitorais, como é agora o caso. Face aos resultados alcançados nas urnas, verifica-se uma situação realmente sui generis. Todos os partidos ganharam. Cada um dos representantes das forças partidárias chega a essa conclusão e afirma-o alto e bom som, sem qualquer rebuço.

Desta feita, também é assim. Escrevo e de quando em vez vou deitando um olho para as televisões que se guerreiam para que a transmissão de uma seja a melhor de todas. Dada a dificuldade da escolha – muitas vezes o famoso share prega partidas e das grossas – vai-se a ver e todas… ganharam. E lá está ela, a famigerada sui generis a saltar viva da costa, que nem sardinha na lota.

Mas, esta noite, tem ainda uma outra situação sui generis complementar: o único a perder foi o Partido Socialista que, por acaso, até ganhou as eleições. De acordo com os ilustres dirigentes das oposições ouvidos, o grande objectivo de cada um dos seus partidos foi alcançado e daí ter sido uma grande vitória: foi retirada a maioria absoluta ao PS. Confesso a minha ingenuidade e falta de preparação política: julgava que quem concorria a eleições era para as ganhar. Eu, pecador, me confesso…

Daí que os títulos de amanhã sejam, em meu modesto pressagiar: PS ganha – mas perde maioria; ou, quiçá e melhor: PS perde maioria – mas ganha.

País sui generis o nosso.

NE - Escrevi «isto» às 23:00 (TMG) do domingo, 2009-09-27 e mandei por imeile a todos os meus correspondentes portugas e brasucas. Umas quantas respostas chegaram, naturalmente de teores assaz diferentes. Vivemos, felizmente, em Liberdade e em Democracia e… sem asfixia. Alguns, em número suficiente, disseram-me para o texto publicar aqui. Não o tinha pensado quando o redigi. Mas… Quero, no entanto, aproveitar para perguntar aos leitores e cumentadores (com o) deste blogue o que acham deste entrar pela política que não é habitual por estas bandas. Agradeço desde já as respostas - positivas ou negativas. Especialmente estas. Para a Minha Travessa ou pelo imeile hantferreira@gmail.com. E não é que acertei nos primeiros títulos...

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